Conforme o inquerido da PF, a droga era levada para Porto Nacional, na região central do estado, onde ficava armazenada. Posteriormente, os integrantes do grupo criminoso encaminhava o material para outros estados.
A PF descobriu que os criminosos eram ligados por uma facção criminosa que atua nos estados de São Paulo e Goiás. Na época do flagrante da droga escondida na carga de melancia, três pessoas foram presas. No decorrer das investigações, a polícia identificou que o suposto chefe regional do esquema era um homem chamado Raimundo Alves Lima, também conhecido como “Pedão”, “Cachorrão”, “Pedro” e “Cabeça Branca”.
O inquérito apontou que Raimundo teve o nome repetidamente associado a movimentações e distribuições de entorpecentes e a atividades logísticas no interesse do narcotráfico, incluindo imóveis e veículos utilizados pelos integrantes do grupo criminoso. Ele também é acusado de estar envolvido com o tráfico de drogas em larga escala, controle de territórios e eliminação de integrantes de facções na região de Porto Nacional.
Operação em Porto Nacional apreende 565 kg de cocaína escondidos em caminhão que transportava melancias — Foto: Divulgação/FICCO-TO
Nos dois carregamentos apreendidos, a perícia apontou que havia as mesmas características da cocaína encontrada na carga de melancia. No laudo da PF, que a TV Anhanguera também teve acesso, foi concluído que o entorpecente não foi manipulado no Brasil, e que, provavelmente, entrou no país pelo modal aéreo saindo de países como Bolívia, Colômbia e Peru.
Ao chegar em Porto Nacional, a droga seria encaminhada por terra para algum ponto de exportação brasileiro. O documento apontou que ela sairia do porto de Belém (PA) para a Hong Kong, na China.
Um detalhe apontado no laudo é que todos os 18 fardos de cocaína apreendidos estavam envelopados em sacos plásticos, de cores verdes ou transparentes, contendo fitas adesivas de origem estrangeira.
Nos casos de grandes apreensões de drogas, os fardos também foram manipulados com a mesma forma de envelopamento e fitas adesivas semelhantes, o que indica que os carregamentos possuem a mesma origem, de fora do Brasil, isso levou os investigadores a concluírem que a droga foi fornecida diretamente pelo mesmo grupo de traficantes internacionais.
Anotações, provas e mais crimes
O filho de Raimundo, Jackson Costa de Miranda, também estava envolvido no esquema. Nas buscas e apreensões contra os investigados, os policiais federais conseguiram encontrar cinco cadernos, com anotações manuscritas, contendo, na sua maioria, registros, aparentemente, de um negócio ou transação pessoal.
Elas continham listas de valores pagos e a receber, com descrições de quantidades em quilogramas e separadas por nomes de pessoas, além de registros financeiros, contendo números, nomes e palavras-chave que sugerem transações e vendas.
A defesa de Raimundo e Jackson informou que recebeu com naturalidade a apresentação e o recebimento da denúncia, por se tratar de procedimento corriqueiro no âmbito processual, mas que confia na inocência de seus clientes e espera pela absolvição dos crimes imputados (veja nota na íntegra no fim da reportagem).
Na investigação, pai, filho e outros suspeitos foram monitorados em endereços que estavam ligados ao suposto chefe regional do grupo, sendo três casas e um imóvel rural. As movimentações se intensificara, em abril de 2025. Com a movimentação, foi possível comprovar que os investigados estavam envolvidos no esquema para transportar os 556 kg de cocaína dentro do estado.
Além do transporte da droga, a polícia identificou que o grupo atuava fortemente armado, com apoio de três pessoas que tinham facilidade para obter armamentos, como o policial civil Francisco Eduardo Alencar Aguiar, que teria cometido crime de falsidade ideológica ao registrar falsas declarações de perdas de armas de fogo, e os vigilantes Wanderson dos Santos Barbosa e Damião do Vale Costa.
Sobre o policial civil Francisco Eduardo, a Secretaria da Segurança Pública do Tocantins informou que o caso está sendo acompanhado pela Corregedoria-Geral da SSP, e que ‘serão tomadas todas as providências administrativas cabíveis’.
A TV Anhanguera apurou que o policial e os vigilantes ainda não constituíram defesa no processo, por isso não foi possível ter acesso a um posicionamento até a última atualização desta reportagem.
O promotor Breno Simonassi comentou que os presos denunciados por envolvimento no esquema, faziam parte de um núcleo que dava suporte fornecendo armamento e o transporte dos entorpecentes.
“Estamos falando de uma organização criminosa muito bem articulada, muito bem preparada, que utilizava-se de pistas clandestinas do nosso estado e o objetivo do Ministério Público é levar à justiça e à condenação, desarticulação e descapitalização de toda essa organização para que todos respondam na justiça e paguem pelos erros”, explicou.
Relembre a apreensão
Drogas apreendidas em abril de 2025 estavam em um caminhão carregado de melancias — Foto: Divulgação/Polícia Federal
Durante as investigações, o motorista preso em flagrante pelo transporte das drogas, teria confessado em depoimento a Polícia Federal (PF) que receberia R$ 20 mil pelo serviço. A confissão também foi informada a outros dois policiais que fizeram a abordagem.
Ainda segundo o motorista, ele teria saído de Santa Fé de Goiás (GO) com a carga de melancia no dia 7 de abril, com destino para Santa Izabel, no Pará (PA).
Porém, o caminhão teria apresentado problemas mecânicos e foi parado no posto de Porto Nacional. Quando foi bordado por dois homens em uma picape branca. Os suspeitos teriam oferecido R$ 20 mil para ele fazer o transporte da droga.
O motorista teria dito aos polícias que como estava com problemas financeiros, resolveu aceitar o dinheiro, que só receberia após entregar a grande quantidade de cocaína no destino.
Conforme a PF, esta é a maior apreensão de cocaína dos últimos 15 anos no estado. Além da cocaína, foram apreendidos dinheiro em espécie, veículos utilizados na logística de distribuição dos entorpecentes, cinco armas de fogo de uso restrito e de uso proibido, incluindo pistolas e carabinas com numeração raspada e sem registro legal.
Íntegra da defesa de Raimundo Alves Lima e Jackson Costa de Miranda
A defesa de Raimundo Alves Lima e Jakson Costa de Miranda recebeu com naturalidade a apresentação e o recebimento da denúncia, por se tratar de procedimento corriqueiro no âmbito processual. Ressalta, contudo, confiar plenamente que, ao término da instrução, será demonstrada a inocência de seus clientes, resultando na absolvição de todas as imputações formuladas pelo Órgão Acusador.