A Polícia Civil do Tocantins abriu investigação para apurar um possível crime de maus-tratos contra uma arraia de água doce, registrado na Praia do Prata, em Palmas. O caso ganhou repercussão após a divulgação de um vídeo nas redes sociais, que mostra um homem utilizando uma lança para capturar e arrastar o animal até as lixeiras da orla.
As imagens começaram a circular no último fim de semana e mostram claramente o momento em que o homem se aproxima da arraia, que estava às margens do lago, e a espeta com uma lança de ferro. Ele caminha com o animal por vários metros, segurando-o pela ponta do instrumento, enquanto a arraia se debate violentamente e tenta se defender com o ferrão — uma reação típica de defesa do animal quando se sente ameaçado.
Polícia já iniciou diligências
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que a Delegacia Especializada de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente e Conflitos Agrários (DEMAG – Palmas) já registrou a ocorrência e iniciou as diligências para identificar o autor e apurar as circunstâncias do crime.
Arraias: defesa natural e riscos
As arraias de água doce são comuns em rios e lagos do Tocantins, especialmente durante o período de seca, quando a lâmina d’água diminui e os animais se aproximam das margens. O biólogo Gabriel Samora Chacra explicou que o ferrão é um mecanismo de defesa natural do animal e que, quando acionado, pode causar acidentes graves.
“Quando a arraia se sente ameaçada, principalmente ao ser pisada, esse ferrão é utilizado como defesa. Ele contém toxina e pode provocar ferimentos profundos e de difícil cicatrização”, afirmou o biólogo.
Segundo o Corpo de Bombeiros, em 2025 já foram registrados oito acidentes envolvendo arraias no estado. No entanto, o número real pode ser maior, já que muitas ocorrências não são oficialmente comunicadas.
“A maioria das vítimas vai direto para o hospital sem acionar a corporação, o que dificulta o levantamento de dados mais precisos”, explicou o subtenente Wesley Sousa.
Especialista aponta crimes ambientais
O advogado Marcelo Dealtry, especialista em direito ambiental, afirmou que o caso configura pelo menos dois crimes previstos na Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal nº 9.605/1998).
“Essa conduta configura o crime de retirada indevida de animal silvestre, além de maus-tratos ou abuso contra fauna. A arraia é uma espécie protegida por lei e qualquer interferência não autorizada configura crime ambiental”, destacou o advogado.
Órgãos ambientais acompanham o caso
O Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), responsável pela fiscalização ambiental no estado, também se manifestou e garantiu que irá averiguar a situação e adotar as providências legais cabíveis.
“De acordo com a Lei Federal nº 9.605/1998, é crime a captura, perseguição, maus-tratos, ferimentos ou qualquer forma de interferência não autorizada com animais silvestres”, informou o órgão em nota.
Já a Guarda Metropolitana de Palmas (GMP) disse que não foi acionada na ocasião, mas reforçou que qualquer ocorrência envolvendo animais silvestres deve ser comunicada imediatamente à corporação, pelo telefone 153. A GMP orienta ainda que, em situações como essa, os banhistas não tentem capturar ou remover os animais, para evitar acidentes e prejuízos à fauna.
Como denunciar
A população pode denunciar crimes ambientais pelo telefone gratuito do Naturatins, 0800 063 1155, ou pela Linha Verde Zap, no número (63) 99106-7787.